Revista Técnico-Científica O SABER

 ISSN: 1983-7658    

 

Revista Técnico-Científica O SABER 

 ISSN: 1983-7658


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Avaliação do papel ecológico de formigas na dispersão de microrganismos ambientais

 

Clara Bahia Gouvêa1, Mariana Damasio Ayres Lopes1, Taila Silva de Carvalho1,

Letícia Quadros dos Santos1, Beatriz Takazaki Schneider1, Marilen Queiroz de

Souza Pereira Gomes2, Gustavo Figueiredo Marques Leite3, Lorena da Silveira

Derengowski4

DOI_logo.pnghttps://doi.org/10.63753/osaber.a15n15.60

 

RESUMO

 

Formigas são insetos pertencentes à ordem Hymenoptera que exercem inúmeras atividades aos ecossistemas, seja pela decomposição de substratos orgânicos, pela ciclagem de nutrientes, ou mesmo pela atividade de aeração do solo. Além disso, podem atuar como dispersores de sementes e de patógenos de plantas e animais, influenciando significativamente no equilíbrio e na saúde das populações. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi verificar o papel de formigas na dispersão de microrganismos ambientais. Para tanto, fungos isolados de formigas foram cultivados in vitro e analisados quanto ao aspecto macroscópico das colônias e quanto ao tipo de hifa. Posteriormente, o DNA extraído dos fungos foi utilizado como molde para amplificação de um fragmento da região ITS do rDNA, o qual foi submetido ao sequenciamento para identificação molecular dos microrganismos. Três espécies prováveis de fungos associados a formigas foram identificadas a partir de análises de bioinformática: Fusarium oxysporum, Aspergillus westerdijkiae e Cladosporium cladosporioides. Esses fungos desempenham papel na decomposição de matéria orgânica, podendo também atuar como fitopatógenos e entomopatógenos, além de produzirem micotoxinas de relevância médica. Paralelamente, procedeu-se ao reconhecimento das formigas potencialmente dispersoras de microrganismos coletadas neste trabalho, identificando-se cinco gêneros: Atta, Pheidole, Dorymyrmex, Monomorium e Camponotus. Os resultados do presente trabalho sugerem que formigas atuam ativamente como vetores mecânicos de dispersão de diversas espécies de fungos, os quais podem interferir positiva ou negativamente nos ecossistemas.

 

Palavras-chave: Phoresia. Microorganismos. Formigas.

  

ABSTRACT

 

Ants are insects belonging to the order Hymenoptera performing several activities for the ecosystems, including the decomposition of organic matter, nutrients cycling and soil aeration. Furthermore, they can act as dispersers of seeds and pathogenic microorganisms, significantly influencing the balance and the health of plants and animals populations. In this context, this paper aims at verifying the role of ants in the dispersion of environmental microorganisms. To this end, fungi isolated from ants were cultivated in vitro and analyzed for the macroscopic morphology of the colonies and the type of hyphae. Subsequently, the DNA extracted from the fungi was used as a template for amplification of a fragment of the ITS (Internal Transcribed Spacer) region of rDNA, which was submitted to sequencing in order to identify the microorganisms. Three probable species of ant-associated fungi were identified by bioinformatics analysis: Fusarium oxysporum, Aspergillus westerdijkiae and Cladosporium cladosporioides. These fungi play a role in the decomposition of organic matter and can also act as phytopathogens and entomopathogens, as well as producing mycotoxins of medical relevance. At the same time, five genera of ants associated with microorganisms were identified in this work: Atta, Pheidole, Dorymyrmex, Monomorium and Camponotus. Our results suggest that ants actively act as mechanical vectors for the dispersal of several species of fungi, which can interfere positively or negatively in ecosystem interactions, as well as in agriculture and public health.

 

Keywords: Phoresy. Microorganisms. Ants.

 

INTRODUÇÃO

 

Com uma estimativa que supera as 1.500 espécies registradas, a riqueza de formigas no Brasil destaca a sua adaptação a uma ampla gama de ambientes, desde florestas tropicais até áreas urbanas (Santos, 2016; Feitosa et al., 2022). No Brasil, os estudos da mirmecologia iniciaram-se ainda na década de 1980 e, atualmente, o país possui o segundo maior número de publicações sobre o assunto no mundo (Santos, 2016).

As formigas, por sua diversidade e papel ecológico, desempenham funções essenciais para os ecossistemas, seja atuando como polinizadores e dispersores de sementes, ou pela decomposição de substratos orgânicos e ciclagem de nutrientes. Seu papel na decomposição de matéria orgânica, processo fundamental para a saúde e equilíbrio dos ecossistemas, é notável. Ao carregarem restos vegetais, detritos e outros materiais orgânicos para seus ninhos, elas promovem a fragmentação desses substratos, facilitando a ação de microrganismos decompositores (Dejean et al., 2023). Ainda, ao se movimentarem por diferentes ambientes, transportam consigo microrganismos, como bactérias e fungos, contribuindo para a dispersão desses agentes biológicos por áreas mais extensas e influenciando a biodiversidade microbiana nos ecossistemas (Dejean et al., 2023). Portanto, formigas exercem papel crucial na ciclagem de nutrientes, transformando resíduos orgânicos em nutrientes essenciais, enriquecendo e mantendo a fertilidade do solo e, assim, sustentando a biodiversidade e garantindo a produtividade dos ecossistemas terrestres. Por outro lado, também podem agir como veículos de dispersão de microrganismos patogênicos, podendo causar danos às lavouras e à saúde pública, acarretando prejuízos econômicos.

De modo geral, a interação entre formigas e microrganismos mostra grande complexidade, abrangendo relações mutualísticas, parasitárias ou interações casuais que podem conferir benefícios ou malefícios ao ecossistema. A relação simbiótica mantida entre microrganismos e insetos vêm sendo demonstrada em diversos estudos (Currie, 2001; Farrel et al., 2001; Paludo et al., 2018; Aanen et al., 2022; Dejean et al., 2023). A mais popular relação entre formigas e microrganismos está na fungicultura, relação simbiótica entre fungos e algumas espécies de formigas. Nessa prática, ocorre o cultivo e domesticação de um fungo pelos insetos em sua colônia, por meio do contínuo fornecimento de matéria orgânica ao microrganismo. Em contrapartida, o fungo degrada o material orgânico, produzindo nutrientes assimiláveis para as formigas (Biedermann & Vega, 2020). No Brasil, esta prática vem sendo observada entre “formigas-cortadeiras”, especificamente Atta spp. e Acromyrmex spp., e fungos da família Lepiotaceae, em um processo de coevolução estimado em aproximadamente 30 milhões de anos (Shik et al., 2016). Contudo, as associações entre esses organismos não se limitam a relações de alimentação, e formigas têm mecanismos de defesa contra patógenos, muitas vezes associados a microrganismos.

Uma faceta significativa dessas interações reside na estreita associação de determinadas espécies de formigas a bactérias que produzem substâncias antifúngicas presentes em seu exoesqueleto. Essas substâncias desempenham um papel essencial ao inibir o crescimento de organismos potencialmente prejudiciais às formigas. Essas observações evidenciam de forma clara a natureza imbricada e simbiótica das relações entre formigas e microrganismos, revelando, ao mesmo tempo, os mecanismos complexos de defesa contra patógenos, muitas vezes associados a esses microrganismos (Pagnocca et al., 2008; Dejean et al., 2023). Por outro lado, alguns fungos que parasitam formigas produzem substâncias capazes de alterar o comportamento desses insetos, controlando seus movimentos e utilizando-os como fonte de nutrientes e substrato de sustentação. Portanto, observa-se claramente a complexidade nas relações entre formigas e microrganismos e os variados mecanismos simbiontes. A compreensão desses aspectos ecológicos das formigas no Brasil não apenas destaca a biodiversidade única do país, mas também oferece dados valiosos para estratégias de manejo e conservação em ecossistemas em constante evolução (Feitosa et al., 2022).

No contexto da ecologia urbana, as formigas demonstram uma notável capacidade de se adaptar a ambientes modificados pelo homem (Bueno et al., 2017). Suas interações com o ambiente urbano incluem o forrageamento em resíduos alimentares, a construção de ninhos em espaços urbanizados e a influência na dinâmica de outros organismos (Folgarait, 1998). Além disso, as formigas urbanas podem desempenhar um papel significativo na ciclagem de nutrientes, na predação de pragas e na disseminação de patógenos, influenciando indiretamente a qualidade desses ambientes. Ainda, a presença de formigas pode determinar a disseminação de microrganismos causadores de doenças para o homem e produtores de toxinas de interesse médico. Nesse contexto, existe uma preocupação quanto às possibilidades de agravos à saúde pública que possam ser causados pela veiculação de agentes patogênicos por formigas. Isso porque formigas possuem capacidade de se deslocarem rapidamente por extensas áreas, sugerindo que, em ambientes hospitalares, podem atuar como importantes vias de dispersão de microrganismos resistentes a drogas, bem como apresentarem relação direta com infecções nosocomiais (Pereira & Bueno, 2008). Entretanto, pouco se sabe a respeito da disseminação, mediada por formigas, de fitopatógenos e microrganismos produtores de toxinas de relevância médica.

Assim, o presente estudo, desenvolvido pelo grupo de microbiologia do Clube de Estudos Ambientais do Colégio Militar de Brasília (CEA/CMB) teve como objetivo principal a ampliação do conhecimento sobre a microbiota presente no solo, bem como sobre as formigas e o papel desses animais sinantrópicos na disseminação de microrganismos decompositores e patogênicos. Esse trabalho contribui na elucidação da complexa relação existente entre formigas e microrganismos de sumo interesse para a manutenção e sustentabilidade dos ecossistemas terrestres e para a elaboração de estratégias que visem controlar a disseminação de potenciais patógenos.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

Este estudo foi realizado a partir de amostragens realizadas no Colégio Militar de Brasília (CMB), uma instituição de Educação Básica instalada na porção central do Distrito Federal, entre os meses de abril e maio de 2023. As formigas foram capturadas em três diferentes áreas no CMB, de forma a representar a heterogeneidade de ambientes e a diversidade de espécies. Para a captura, as formigas foram atraídas com isca de sardinha, coletadas com o auxílio de um pincel previamente esterilizado e introduzidas em placas de Petri, contendo meio de cultura BHI (Brain Heart Infusion) sólido.

Os indivíduos capturados permaneceram se movimentando em contato com o meio de cultura por cerca de 10 minutos. Posteriormente, foram coletados e armazenados em Álcool 70% para identificação. A identificação das formigas foi realizada utilizando chaves de identificação até o nível de gênero (Baccaro et al., 2015) e, posteriormente, confirmadas por especialistas. Para cada ambiente, a amostragem e inoculação dos microrganismos foi realizada em triplicata. As placas de Petri foram mantidas por 4 dias a temperatura ambiente, documentando-se o crescimento da diversidade de fungos filamentosos.

ungos que cresceram nas amostras coletadas foram isolados em placas com meio BHI (Brain-Heart Infusion). As culturas puras dos fungos estabelecidas nos meios de cultura foram, então, caracterizadas morfologicamente quanto à forma, cor e textura para identificação preliminar. Através de análise microscópica foram examinados os tipos de hifas e estruturas reprodutivas de fungos isolados, permitindo uma caracterização mais detalhada desses microrganismos.

O DNA dos fungos foi extraído, a partir das culturas puras obtidas e cultivadas em meio de cultura líquida por 5 dias sob agitação. Para a extração de DNA, foi utilizado o kit comercial Quick-DNA Fungal/Bacterial Miniprep (Zymo Research), seguindo as recomendações do fabricante. A integridade do DNA extraído foi verificada por eletroforese em gel de agarose 1% e o material foi quantificado por espectrofotometria. O DNA obtido a partir dos fungos isolados foi utilizado como molde para a amplificação da região ITS do rDNA por meio da técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), possibilitando a obtenção de fragmentos específicos que foram posteriormente sequenciados para identificação precisa das espécies de fungos associadas às formigas. As reações de amplificação por PCR foram preparadas em duplicata com um volume final de 50 µL, contendo aproximadamente 30 ng de DNA, 0,5 µM do primer senso, 0,5 µM do primer antisenso, 200 µM dNTPs, 5 µl de 10X Taq Reaction Buffer e 2,5 U de Taq DNA polimerase (Cellco). As condições da reação de PCR foram: desnaturação inicial de 95º C por 1 minuto, seguido de 35 ciclos de 30 segundos a 95° C, 30 segundos a 55° C, 1 minuto a 72° C e uma extensão final de 2 minutos a 72° C. Após o término da reação, os amplicons foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1,5%. Para o sequenciamento, os amplicons foram purificados utilizando-se o kit GFX (GE Healthcare Life Sciences), conforme as instruções do fabricante. A concentração da amostra purificada foi determinada por espectrofotometria e ajustada para 30 ng/µL. As amostras foram enviadas para a empresa ATCGenes Análises Moleculares, a qual realizou o sequenciamento.

A qualidade das sequências obtidas, a partir do sequenciamento, foi verificada usando o programa BioEdit. Posteriormente, as sequências foram comparadas com sequências previamente depositadas no banco de dados GenBank, através do programa BLASTn disponível no NCBI (www.ncbi.nlm.nih.gov).

 

RESULTADOS

 

Foram coletadas nove formigas nos locais avaliados, das quais 44,4% eram do gênero Paratrechina e 22,2% pertenciam ao gênero Atta. As demais formigas encontradas incluíam os gêneros Monomorium, Pheidole e Brachymyrmex (Tabela 1).

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Visando avaliar o papel de formigas na veiculação de microrganismos ambientais, em especial fungos presentes no solo, os insetos foram atraídos e permaneceram por 10 minutos locomovendo-se sobre meio de cultura, conforme descrito na metodologia. A Figura 1 mostra a diversidade de microrganismos que cresceram no meio de cultura, após 4 dias a temperatura ambiente. Foram realizados três experimentos independentes em triplicata experimental.

 

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Figura 1. Representação da diversidade microbiana isolada a partir da associação com formigas.

 

A partir de análise morfológica, cinco colônias diferentes foram escolhidas para caracterização mais precisa do fungo, sendo isoladas e cultivadas in vitro em cultura pura (Figura 2). Posteriormente, foi realizada avaliação macroscópica da colônia quanto à coloração, forma, aspecto e presença ou ausência de sulcos, e a avaliação microscópica do padrão de segmentação de hifas (Tabela 2). A análise microscópica da amostra 2 permitiu a identificação de conidióforos, as estruturas reprodutivas produtoras de esporos assexuais chamados de conídios (Figura 3). A presença de hifas septadas e conidióforos na amostra 2 são características sugestivas de que o fungo em questão pertença ao filo Ascomycota.

 

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Figura 2. Aspecto morfológico das colônias de fungos isolados, a partir da associação com formigas, selecionados para caracterização.

 

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Figura 3. Micrografia da estrutura reprodutiva da amostra 2.

 

Após a caracterização das colônias, os fungos selecionados foram cultivados em meio de cultura líquido sob agitação para posterior extração de DNA. Entretanto, não foi possível o cultivo e o repique da amostra 4, impedindo sua identificação molecular. As demais amostras tiveram o DNA genômico extraído e analisado quanto à integridade por eletroforese em gel de agarose 1% (Figura 4A). Após quantificação, o DNA genômico dos fungos em estudo foi utilizado como molde para amplificação de um fragmento da região ITS do rDNA (Figura 4B). A partir da utilização dos iniciadores ITS1F X ITS4R, o produto amplificado da região ITS gerou um fragmento de aproximadamente 650 pb para todos os isolados. Os amplicons obtidos foram purificados e quantificados por espectrofotometria, conforme descrito na metodologia. A região ITS do rDNA foi sequenciada para identificação e diferenciação dos isolados em estudo.

A qualidade das sequências obtidas, a partir do sequenciamento, foi verificada utilizando-se o programa BioEdit. Posteriormente, as sequências foram submetidas a análises utilizando-se a ferramenta BLASTn. Os resultados da análise BLAST apresentaram uma identidade de 99% com relação às sequências depositadas no GenBank. A tabela 3 mostra os resultados obtidos, a partir da comparação das sequências obtidas para os fungos em estudo com sequências previamente depositadas no GenBank. As análises moleculares sugerem fortemente a identificação das espécies dos fungos isolados, a partir das formigas. As sequências obtidas neste trabalho foram submetidas ao banco de dados público de anotações de sequências de nucleotídeos (GenBank), sendo disponibilizados números de acessos para as referidas sequências (Tabela 3).

 

 

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Figura 4. (A): Perfil eletroforético do DNA genômico extraído dos fungos isolados a partir da associação com formigas. Uma alíquota do DNA foi analisada por eletroforese em gel de agarose 1%, corado com brometo de etídeo. (B): Perfil eletroforético do produto da PCR amplificado com primers específicos para a região ITS do rDNA. Uma alíquota correspondente a 10 µL do produto da PCR foi analisada por eletroforese em gel de agarose 1,5%, corado com brometo de etídeo. Poço M: Marcador de massa molecular 1 kb Ladder. Poços 1 e 2: amostra 1. Poços 3 e 4: amostra 3. Poço 5: amostra 2. Poço 6: amostra 4.

 

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  DISCUSSÃO

 

Os gêneros de formigas Pheidole, Brachymyrmex, Monomorium, Atta e Paratrechina desempenham papéis distintos nos ecossistemas em que estão presentes, estando comumente associados a ambientes antropizados. Formigas do gênero Pheidole, conhecidas por sua diversidade, são cosmopolitas e frequentemente observadas nos mais diversos ambientes ao redor do mundo (Bueno & Campos-Farinha, 1999; Bueno et al., 2017). São espécies onívoras e tipicamente oportunistas, beneficiando-se das condições criadas pelas alterações antrópicas (Bueno et al., 2017). Algumas espécies possuem comprovada importância na dispersão de sementes (Martins & Moreau, 2020) e estudos anteriores demonstraram sua relevância na dispersão de microrganismos em ambientes urbanos, como escolas (Carin Guarda et al., 2021) e hospitais (Campos-Farinha et al., 2002; Aquino et al., 2013). Já as formigas pertencentes ao gênero Brachymyrmex, apesar de possuírem colônias tipicamente pequenas, formadas por algumas dezenas de indivíduos, podem estabelecer-se eficientemente em diversos ambientes, sendo comumente encontradas em áreas urbanas (Lutinski et al., 2015). Essa adaptabilidade pode estar associada ao hábito alimentar onívoro da maior parte das espécies do grupo e, consequentemente, por seu sucesso em ambientes antropizados.

Monomorium é um gênero de formigas que compreende uma notável adaptabilidade, sendo classificada como praga invasora. Atualmente, Monomorium está entre os principais gêneros de formigas encontradas em áreas urbanas, estando entre os grupos comumente identificados como vetores de fungos (Lutinski et al., 2015) e de bactérias (Máximo et al., 2014), em ambientes hospitalares. Ressalta-se que, diante de toda diversidade conhecida para Formiciidae, poucas espécies apresentam o “status” de praga, isto é, que ocasionam incômodo, ferroam, causam danos em equipamentos ou veiculam patógenos em áreas como hospitais e comedouros.

As formigas do gênero Atta são conhecidas de ambientes urbanizados por conta de seus hábitos generalistas e características biológicas de pioneiras e colonizadoras (Baccaro et al., 2015; Bueno et al., 2017; Aranda et al., 2022). Juntamente com outras espécies da tribo Attini, são consideradas as principais pragas, dentre os insetos, para a agricultura neotropical. Atta sp também vem sendo registrada em ambientes hospitalares, assim como Pheidole sp. e Paratrechina sp. (Lima et al., 2013). Contudo, por sua capacidade de forragear a grandes distâncias em busca de recursos (mais de 6 km dos ninhos a depender da qualidade dos recursos disponíveis) torna a espécie um efetivo dispersor para microrganismos no ambiente (Cherrett, 1968).

Formigas pertencentes ao gênero Paratrechina, por sua vez, destacam-se pela habilidade em colonizar ambientes urbanos, aproveitando-se das oportunidades oferecidas por áreas urbanizadas. Paratrechina longicornis, por exemplo, vem sendo citada em diversos estudos dentre as espécies de formigas mais comumente identificadas em ambientes hospitalares (Zarzuela et al., 2002; Zarzuela, 2008; Máximo et al., 2014; Bueno et al., 2017), apresentando um considerável potencial como vetores de disseminação de microrganismos patogênicos, tais como clostrídios, salmonelas e micobactérias (Bueno & Campos-Farinha, 1998). Máximo e colaboradores (2014) identificaram diversos microrganismos associadas a Paratrechina sp. em ambientes hospitalares, dentre eles a bactéria Staphylococcus epidermidis, cujas infecções nosocomiais podem ocasionar condições como endocardite, infecção relacionada a cateter intravenoso, peritonite associada a cateter de diálise peritoneal, bacteremia, infecções em feridas, infecções de próteses e infecções das vias aéreas superiores (Costa et al., 2006; Konemam et al., 2008)

A capacidade das formigas em percorrerem longas distâncias é fundamental para processos ecossistêmicos como polinização, ciclagem de nutrientes e controle de pragas, contribuindo para a resiliência ecológica. No entanto, é importante compreender e monitorar essa dispersão, especialmente quando se trata do potencial transporte de microrganismos, incluindo patógenos, que podem ter implicações para a saúde humana e a biodiversidade. Nesse contexto, no presente trabalho foi possível cultivar in vitro, caracterizar morfologicamente e identificar molecularmente quatro isolados fúngicos obtidos a partir da associação com formigas. Análises de bioinformática indicam que esses isolados pertencem aos gêneros Fusarium, Aspergillus e Cladosporium.

As três espécies de fungos prováveis identificadas no presente trabalho compreendem Fusarium oxysporum, Aspergillus westerdijkiae e Cladosporium cladosporioides. Apesar de apresentarem características morfológicas distintas, tais espécies são capazes de se adaptarem a uma variedade de ambientes, incluindo solo e matéria orgânica em decomposição, e possuem importância na microbiologia ambiental e no agronegócio, podendo atuar como fitopatógenos. Nesse sentido, embora possa estar associado ao processo de decomposição da matéria orgânica e ciclagem de nutrientes, F. oxysporum também é conhecido por causar doenças vasculares em plantas, como a murcha vascular, responsável por comprometer a produção em diversas culturas economicamente relevantes, como tomates, batatas e bananas. Além disso, esse fungo é um patógeno emergente em humanos, podendo causar infecções invasivas em pacientes imunocomprometidos (Dean et al., 2012). Em contrapartida, quando associados a raízes de plantas, F. oxysporum pode atuar na proteção do hospedeiro a fitopatógenos. O mecanismo de ação de fungos endofíticos, como F. oxysporum, no biocontrole de fitopatógenos pode ocorrer de forma direta, via micoparasitismo, por antibiose ou pela competição por nutrientes, ou de forma indireta, pela indução de mecanismos de resistência na planta hospedeira (De Lamo & Takken, 2020).

Aspergillus westerdijkiae é reconhecido por sua capacidade de produzir micotoxinas, apresentando implicações na segurança alimentar e potencial aplicação em processos industriais. Em especial, essa espécie de fungo está entre as maiores produtoras de ocratoxina A, uma micotoxina comumente encontrada em alimentos e produtos agrícolas. A patogenicidade da ocratoxina A está associada a problemas neurológicos, hepáticos e renais, bem como ao seu potencial papel carcinogênico em humanos (Parussolo et al., 2019). A. westerdijkiae é também considerado um entomopatógeno, com um potencial uso desse microrganismo no controle de populações de baratas (Baggio et al., 2015).

Cladosporium cladosporioides, por sua vez, é um fungo ambiental comum, encontrado em diversos substratos e facilmente disperso pelo ar. Esse fungo pode atuar como saprófita, endofítico ou contaminante, a depender do seu substrato. Além disso, é comumente encontrado associado a frutos de cafeeiros, influenciando positivamente a qualidade do café (Francisco et al., 2022). Assim como A. westerdijkiae, C. cladosporium é um fungo entomopatogênico frequentemente utilizado no controle biológico de diversas espécies de insetos, como Bemisia tabaci (Islam et al., 2019).

Além do papel ambiental desempenhado pelas espécies identificadas nesse trabalho, vale ressaltar a relevância médica desses fungos e suas potenciais implicações para a saúde humana. Como mencionado anteriormente, algumas variantes de F. oxysporum são capazes de causar infecções em pacientes imunocomprometidos, enquanto A. westerdijkiae destaca-se na produção de micotoxinas de relevância clínica. Ademais, esporos de fungos são frequentemente associados a quadros de alergias respiratórias. Nesse contexto, embora a espécie C. cladosporioides seja comumente encontrada no ambiente, algumas cepas podem desencadear reações alérgicas em pessoas sensíveis. Portanto, a compreensão dos mecanismos de dispersão dessas espécies é essencial para monitorar e atenuar possíveis impactos à saúde humana.

 

CONCLUSÃO

 

A associação de espécies potencialmente patogênicas, como os fungos observados neste estudo, a artrópodes sinantrópicos como formigas, têm implicações significativas para a saúde ambiental e humana. O entendimento de que formigas são organismos capazes de percorrer longas distâncias carregando consigo propágulos de microrganismos sugere que a interação entre artrópodes e fungos pode não apenas favorecer a sobrevivência e propagação de diversas espécies de grande relevância médica e econômica, mas influenciar a qualidade ambiental em áreas urbanas e rurais. Ainda, por se tratarem de insetos cosmopolitas, a presença de formigas pode aumentar o potencial de exposição humana a esses fungos, com possíveis consequências quanto à saúde respiratória e segurança alimentar.

Portanto, a compreensão dessas interações não apenas é crucial para o entendimento de seus potenciais riscos, como para desenvolver estratégias de controle e prevenção, visando mitigar os efeitos adversos à saúde humana e aos ecossistemas em que esses organismos coexistem, sobretudo em ambientes mais sensíveis como hospitais e centros de armazenamentos de alimentos.

 

AGRADECIMENTOS

 

Os autores são gratos à Associação de Pais e Mestres do Colégio Militar de Brasília pelo apoio logístico para a realização deste projeto; à Dra. Patrícia Albuquerque e ao Dr Hugo Paes, da Universidade de Brasília, pela cessão de materiais e pelo uso dos laboratórios para o cultivo dos microrganismos, bem como ao Professor Henrique César Franco Taira pela revisão do abstract.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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1 Aluno(a) do Colégio Militar de Brasília (CMB).

2  Professora de Ciências Naturais (CMB), Doutora em Ciências Médicas (UnB).

3 Professor de Biologia (CMB), Orientador do Clube de Estudos Ambientais (CEA), Doutor em Ecologia (UnB). 

4 Professora de Biologia (CMB), Orientadora do Clube de Estudos Ambientais (CEA), Doutora em Biologia Molecular (UnB). Email: Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

 

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