Revista Técnico-Científica O SABER

 ISSN: 1983-7658    

 

Revista Técnico-Científica O SABER 

 ISSN: 1983-7658


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Uso de telas e seus efeitos nas relações, no cérebro e na escola: um breve auxílio ao despertar

 

Caroline Demo1; Leonardo Pereira Fraga2

  DOI_logo.pnghttps://doi.org/10.63753/osaber.a15n15.68

 

RESUMO

 

Vivemos em plena era digital. Estamos nos adaptando ao uso de telas e essas tecnologias digitais têm deixado marcas em toda a sociedade. Na população infantojuvenil o uso demasiado de telas reflete em comprometimento cognitivo e problemas de saúde física e mental, com declínio da atenção às aulas e do aprendizado. No ambiente domiciliar cresce a necessidade de regulação emocional e de cuidados parentais para evitar a dependência digital de crianças e adolescentes. Os objetivos deste trabalho foram problematizar o desenvolvimento infantojuvenil e discutir o papel da escola nessa nova era digital. Foi investigado o frequente uso de dispositivos eletrônicos em sala de aula, por alunos do 1º ano do Ensino Médio, no Colégio Militar de Brasília. Pesquisas recentes apontam que a restrição e o uso controlado dos dispositivos eletrônicos no ambiente escolar devem estar entre os objetivos de todas as escolas.

 

Palavras-chave: Escola. Uso de telas. Cérebro. Danos. Uso racional.

 

ABSTRACT

We live in a digital era. We are adapting ourselves to the use of digital screens and these technologies have left their mark on society. In children and adolescents, excessive use of screens results in cognitive impairment and physical and mental health problems, with a decline in attention to lessons and learning. In the domestic environment, there is a growing need for emotional regulation and parental care to prevent children and adolescents from becoming digitally dependent. The objectives of this study were to problematize child and adolescent development and discuss the role of schools in this new digital age. It was investigated the frequent use of electronic devices in the classroom by 1st year high school students at the Military School of Brasília. Recent research indicates that restricting and controlling the use of electronic devices in the school environment should be among the objectives of all schools.

Keywords: School. Use of screens. Brain. Harm. Rational use.

 

INTRODUÇÃO

 

Agenda digital, anotações no celular, pesquisas rápidas e acessíveis, jogos gratuitos, tela infinita, redes sociais: é desta forma que os algoritmos vão traçando a vida cotidiana da maior parte das pessoas, em suas conexões digitais. A tecnologia veio para ficar e cada vez mais está disponível com valores acessíveis a toda a população. Cada vez mais cedo, as crianças estão recebendo o acesso à tecnologia permitido pelos adultos cuidadores.

A infância de gerações anteriores era permeada pela natureza, pelas vivências ao ar livre, pelas brincadeiras de rua, até chegar a hora de arrumar-se para ir para a escola. Era o contato saudável e estimulante dos cérebros em desenvolvimento com tantas experiências que as brincadeiras infantis proporcionavam. Entretanto, grandes mudanças ocorreram na sociedade como um todo: a violência aumentou, as famílias optaram por menor quantidade de filhos, os pais mais ativos profissionalmente diminuem os contatos com a natureza, os pais estão menos disponíveis, os amigos da rua, aos poucos, substituídos pelas tecnologias digitais.

A juventude com seu celular na mão, em casa e nas escolas, faz com que o cérebro atue por meio de estímulos diferentes e a plasticidade cerebral tão propagada nas crianças vai sendo diferentemente formada. O que antes era estimulado pela natureza e pelas vivências ao ar livre, refletindo em leveza e tranquilidade, está sendo substituído pelas recompensas hormonais do imediatismo, por comportamentos cada vez mais influenciados pelos algoritmos.

Recentemente, o professor e pesquisador Rafael Polakiewicz relatou significativo aumento dos casos de ansiedade infantil ocasionados por estímulos frequentes do sistema de recompensas do cérebro (Polakiewicz, 2022). Nobre e colaboradores (2021), apoiados em dados da American Academy of Pediatrics, relataram que “viver em um ambiente multitela, por exemplo, televisão, tablet, computadores, smartphones, pode incentivar o uso de telas precocemente na primeira infância”. A Unesco, em boletim recentemente divulgado, evidenciou as preocupações sobre o uso excessivo dos celulares no ambiente escolar e apontou possíveis ações de enfrentamento do problema (Unesco, 2023). O boletim corroborou estudos médicos sobre danos à saúde mental e física de crianças e adolescentes causados pelo uso excessivo de telas conduzidos por Rosa & Souza (2021). É chegada a hora do poder público e da sociedade atuar?

Este artigo é um convite à reflexão, um estímulo ao pensamento. Devemos considerar dois pontos relevantes: se, por um lado, os dispositivos eletrônicos representam um importante recurso lúdico e interdisciplinar no desenvolvimento da criança e do adolescente, por outro lado, trazem preocupações pelo uso excessivo, o que as pesquisas científicas chamam de ciberdependência. Oliveira (2017) afirma que a maturidade do sistema neuronal para tomadas de decisão, sem pensar somente nas recompensas imediatas (como em funcionamento nas redes sociais), ocorre somente na vida adulta. Essa constatação reforça o papel dos pais e cuidadores na formação socioemocional dos filhos.

Dentre os possíveis aspectos do uso de telas, apresento uma problematização focada no desenvolvimento de crianças e adolescentes, além de reflexões quanto ao necessário enfrentamento da dependência digital de alunos no ambiente escolar.

DESENVOLVIMENTO

O cérebro infantojuvenil, as telas e as tomadas de decisão

 

Segundo Lima (2020), estudos crescentes permitem compreender que o cérebro não interrompe seu desenvolvimento e que a formação de circuitos neurais e sinapses ocorrem por meio de estímulos do ambiente. Oliveira (2017) destacou, nesse sentido, a epigenética inter-relação entre genes e experiência – mencionando sobre os estímulos ambientais como um importante fator da expressão de alguns genes. A autora afirma que “bebês/crianças que passaram por situações de estresse intenso, abuso ou negligência (física, sexual e/ou emocional) podem desenvolver alterações epigenéticas”, ou seja, em seu desenvolvimento cerebral. Essas experiências geram adaptações boas ou ruins e podem resultar em sistemas neurais disfuncionais (Oliveira, 2017). Ferrari et al. (2001) e Guerra (2011) afirmam que a interação organismo-ambiente também diferencia e molda os circuitos neurais, os quais caracterizam a plasticidade e a individualidade neural do organismo.

Miranda & Silva (2012) descrevem as partes do nosso cérebro e suas atuações no sistema nervoso central adentrando na significação das emoções e dos acontecimentos ocorridos na vida de uma pessoa. Tendo seu início de desenvolvimento, ainda como bebês, formamos nosso caráter e nossas formas de expressar as emoções, por meio dos aprendizados contínuos. A região do cérebro que inicia esse processo é a amígdala cerebral, uma das mais importantes do sistema límbico, que tem sido apontada como fundamental na neurobiologia da emoção e da afetividade, uma vez que é responsável por atribuir significados às emoções e às decisões que vamos tomar na vida adulta (Miranda & Silva, 2012).

Ainda sobre o desenvolvimento cerebral e as tomadas de decisão, Oliveira (2017) dá ênfase à formação do sistema límbico de recompensa na infância. Segundo a autora, esse grupo de estruturas neurais, responsáveis pela aprendizagem associativa e pela validação positiva das emoções, particularmente as que possuem o prazer como seu componente central, é desenvolvido até a vida adulta. Essas estruturas neurais necessitam de corregulação dos familiares e cuidadores, para que o cérebro infantil se desenvolva adequadamente para as tomadas de decisão (Oliveira, 2017).

Mas, nesses casos, o que significa o termo corregulação? Para Cunha e colaboradores (2022) significa práticas parentais positivas relacionadas aos cuidados dos cuidadores. Trata-se de auxílio parental que propicie a capacidade de modular reações emocionais usando a moderação, inibição, intensificação ou manutenção das emoções (Cunha et al., 2022). Loevaas e colaboradores (2018) relatam que a regulação emocional é um fator de destaque no desenvolvimento das capacidades de tomadas de decisão desenvolvidas especialmente entre os 8 a 12 anos. Para os autores, essas capacidades somente são desenvolvidas de forma adequada e com pertencimento se existir intensa participação familiar, não extinguindo o meio social, mas este se apresentando menos controlável (Loevaas et al., 2018).

Então, possibilitar a plena capacidade de decisão, por meio do uso de telas, para um ser em desenvolvimento é algo prudente? Em entrevista recente para a National Geographic, a especialista Amber Howard argumentou que a adolescência é um momento regado a alterações físicas, emocionais e sociais e que este grupo é mais propenso a focar no lado positivo dos riscos (como a aceitação social) do que no lado negativo (como as consequências para a saúde). Assim, os adolescentes dão prioridade ao grupo social e têm dificuldades para compreender consequências de longo prazo (fator que torna os vídeos e shorts muito populares nas redes sociais). Esses conteúdos digitais incentivam comportamentos de risco e de imitação sem apresentar possíveis consequências.

Atualmente, inúmeros autores apresentam os impactos negativos do uso exagerado dos dispositivos eletrônicos, discutindo os efeitos da exposição prolongada às telas em aspectos como atenção, memória, sono, comportamento e desenvolvimento cognitivo. Alguns desses estudos enfatizam que os impactos negativos em crianças e adolescentes podem ser minimizados com o uso equilibrado, consciente e supervisionado de telas (Alves et al., 2009; Anderson & Subrahmanyam, 2017; Desmurget, 2019; Nobre et al. 2021; Monteiro et al., 2021). No Brasil, uma investigação recente realizada pelo Comitê Gestor da Internet revelou que 85% das crianças e adolescentes, com idades entre 9 e 17 anos, fazem uso diário da internet e permanecem online uma média de 3 horas por dia (Brasil, 2020). Monteiro et al. (2021) ressaltaram as consequências decorrentes da utilização excessiva de telas, durante a pandemia de COVID-19, e enfatizaram a necessidade de estabelecer limites bem definidos para os usos domiciliares.

O cérebro também necessita de descanso dessa hiperestimulação que as tecnologias digitais imprimem. O Instituto de Ciências Médicas Gerais dos Estados Unidos relatou que a luz dos dispositivos, durante a noite, pode confundir os relógios biológicos e acarretar distúrbios do sono, obesidade, diabetes e depressão (National Geographic, 2023). Rosa & Sousa (2021) discutem o desafio de crianças e adolescentes, diante da imaturidade de seus cérebros, no processo de tomada de decisão, que pode resultar em conflito entre o córtex pré-frontal (função executiva que avalia) e o sistema límbico (que sinaliza a sensação de prazer). Em cérebros cansados e viciados, a dependência relacionada à dificuldade de resistir aos impulsos de recompensa imediata se intensifica, a despeito de quaisquer consequências negativas.

 

Entendendo o ciclo de prazer nas telas

Bruna Garrossino, em seu curso “Filhos e telas: equilíbrio e respeito na Era Digital”, detalha o porquê das telas funcionarem como mecanismos viciantes e os fatores causados no cérebro para manter seus usuários ativos. Durante o uso de dispositivos eletrônicos, os impulsos neuroquímicos do cérebro são ativados. Ao rolarmos o dedo rapidamente, somos estimulados pela sucessão de vídeos e com imagens, as quais promovem circuitos de recompensa e sensações de prazer intimamente ligadas à dopamina (Rolnik & Sholl-Franco 2006; Garrosino, 2023). A dopamina é uma substância neuro-hormonal relacionada também com a motivação, o aprendizado e o humor. Os autores relatam que tendemos a sempre buscar mais sensações prazerosas, na relação com os dispositivos eletrônicos. O sistema límbico (sistema das emoções), assim como outras estruturas do cérebro (amígdala e o córtex pré-frontal), tendem a manter a mente ativada, em busca de mais dopamina (e em consequência mais prazer), num ciclo desenfreado de sensações hormonais viciantes (ver Figura 1).

 

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Figura 1: Esquema do ciclo do prazer na utilização de telas relacionado à produção de neuroquímicos cerebrais ligados ao prazer e à dependência. Fonte: Bruna Garrossino – “Filhos e telas: equilíbrio e respeito na Era Digital” (curso online - 2023).

 

Cardial (2023) esclarece uma relação entre o uso abusivo de telas e a ansiedade, causada pelo aumento do cortisol (hormônio do estresse) que repercute e impacta a convivência social.

O uso excessivo das telas, seja num jogo, numa conversa, assistindo a vídeos ou navegando pelas redes sociais, causa sensação de bem-estar e prazer, por isso cria dependência. Deixa-se de conviver no coletivo, de ter interlocução e isola-se porque é mais prazeroso viver a experiência das telas (Cardial, 2023).

 

Nesse sentido, Rosa & de Souza (2021) citam que o avanço das tecnologias está gerando crianças imersas na cibercultura e que a busca por prazeres imediatos está moldando a chamada “geração Z” (pessoas nascidas entre a segunda metade da década de 1990 até o início dos anos 2010), com base na extrema dependência digital. As formas de aprendizado dessa geração ocorrem dentro da perspectiva prática e, assim, descobrem e aprendem de forma rápida. Este é o motivo pelo qual os ambientes educacionais de tecnologias digitais estão profundamente interligados aos ciberespaços. Deixando claro que as tecnologias digitais podem proporcionar inúmeros benefícios quando mediadas de forma controlada e segura.

 

Uso excessivo da tecnologia e suas consequências na escola e na vida

 

A escola, que compreende muitas horas diárias na fase infantojuvenil, está sofrendo as consequências da utilização desregrada das tecnologias digitais e de suas facilidades. A Unesco sugere uma correlação negativa entre o uso excessivo das tecnologias digitais e o desempenho escolar:

Descobriu-se que a simples proximidade de um aparelho celular era capaz de distrair os estudantes e provocar um impacto negativo na aprendizagem em 14 países. O tempo prolongado de exposição à tela pode afetar de forma negativa o autocontrole e a estabilidade emocional, aumentando a ansiedade e a depressão (Unesco, 2023)

Cardial (2023) revela que 22,3 milhões de crianças e adolescentes, com idades entre nove e 17 anos, são usuários da internet no Brasil. Além dos problemas já apresentados, a superexposição aos eletrônicos pode causar déficit de atenção, aumento da impulsividade, tendência ao isolamento, depressão e agressividade (Cardial, 2023).

Abreu e colaboradores (2008) avaliam que, à medida que esses internautas se refugiam progressivamente no mundo virtual (e se aliviam das experiências concretas da vida) começam a exibir características cada vez mais intensas e peculiares. Esses internautas podem apresentar uma nova classificação psiquiátrica, a denominada “dependência de internet”, com sérias consequências e necessidade de tratamentos específicos visando ao resgate da vida real (Abreu et al., 2008).

 

Parte Experimental

 

Buscando avaliar a problemática da dependência digital dos alunos, no ambiente escolar do Colégio Militar de Brasília, realizei uma consulta aos registros de questões comportamentais de alunos, envolvendo a utilização indevida de aparelhos celulares e tablets, durante as aulas. Nesse levantamento de dados, utilizei o período de fevereiro a novembro de 2023 e o universo amostral de alunos do 1º ano do Ensino Médio.

Para quantificar os registros, computei as anotações de professores relatando alunos portando ou utilizando os dispositivos eletrônicos como recreação, durante as aulas, sem autorização do docente responsável.

 

RESULTADOS

 

No período pesquisado foram registrados aproximadamente 91 Fatos Observados (anotações realizadas pelos professores que indicam um comportamento/ação do aluno) relacionados ao uso sem autorização de dispositivos eletrônicos em sala de aula.

É possível inferir a subnotificação desses registros pela frequente opção dos professores em advertir verbalmente os alunos (visando não prejudicar a exposição da matéria), encontrados imersos na tela do celular na sala de aula.

 

DISCUSSÃO

 

Fazendo referência ao autocontrole, na obra “A fábrica de cretinos digitais: os perigos das telas para nossas crianças”, o autor afirma que o diálogo e o estabelecimento de regras restritivas clara, de forma consciente, reduzem o uso dos dispositivos digitais (Desmurget, 2021). Garrossino (2023) afirma que saem as telas e entram os adultos cuidadores para conversar e relembrar sobre a necessidade de diminuição do uso ou dos excessos momentâneos. A presença do adulto nas decisões deve existir, como forma de corregulação, algo que as crianças e os adolescentes necessitam para o amadurecimento cerebral saudável. Desmurget (2021) orienta uma reorganização familiar para que o suposto vazio digital possa ser preenchido por conversas, troca de ideias, práticas de esportes, sono adequado, canto e leitura. Não tem problema que sejam quadrinhos, ou as inúmeras leituras que o ócio pode proporcionar, devolvendo a criatividade diminuída pelas facilidades das tecnologias digitais.

Permeando a corregulação podemos realizar inferências à realidade de sala de aula, na disputa extenuante pela atenção dos alunos. Se os alunos estão utilizando os aparelhos celulares de forma excessiva, devemos nós, adultos, apresentar propostas de mudanças. Segundo Oliveira et al. (2016), citando um estudo de meta-análise visando verificar os efeitos de programas de intervenção na mudança do comportamento sedentário, sugerem que, além de reduzir o tempo de uso de TV, computadores e videogames, deve-se focar em ações no âmbito escolar. No ambiente escolar é necessário estímulo e promoção de ações de atividades físicas, de educação alimentar e nutricional, as quais estão entre as possíveis políticas públicas. A Unesco recomenda a implementação de leis que regulem o uso de dispositivos eletrônicos em sala de aula. Atualmente, os smartphones foram banidos total ou parcialmente no México, Portugal, Espanha, Itália, Suíça, Estados Unidos, Letônia, Escócia e em províncias do Canadá. Na França, apesar da proibição, os aparelhos podem ser usados por certos grupos de alunos com necessidades educacionais especiais ou para fins comprovadamente pedagógicos.  

No Brasil, são poucos os dados em relação ao assunto, mas já observamos algumas iniciativas nas esferas federal e estadual. Em 2023, estava aberta uma consulta pública federal sobre o uso consciente de telas (Brasil, 2023). Em Minas Gerais, desde 2019, um projeto de lei prevê a proibição dos dispositivos eletrônicos no ambiente escolar (Minas Gerais, 2019). Recentemente, no Distrito Federal, o Colégio Marista João Paulo II implementou restrições para alunos dos 6º e 7º anos. Já a Prefeitura do Rio de Janeiro publicou decreto proibindo o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos nas escolas (Rio de Janeiro, 2024).  

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

E será que conseguimos apresentar soluções? A maioria dos autores citados trazem pensamentos e sugestões de atitudes racionais de utilização racional de telas. Os estudos, em geral, não advogam a proibição completa, mas uma efetiva educação digital baseada nas realidades familiar e escolar. Um ponto interessante é o chamado “Minimalismo Digital”, nomeado em vários estudos como forma de melhorar a qualidade de vida, utilizando nosso tempo em atividades mais proveitosas (Martins, 2021; Bonilla & Solís, 2022; e-Cicle, 2023).

Como conclusão geral, as pesquisas indicam que a participação da escola com medidas restritivas e, principalmente, o incentivo da família, a dedicar mais tempo na vida das crianças e adolescentes, vão possibilitar o retorno das rotinas de convivência familiar. Cardial (2023) ressalta que recuperar a conexão com a vida real é muito difícil e demanda muito dos participantes do processo. Afirma, ainda, que a escola é responsável por zelar pela integridade dos estudantes, enquanto estiverem em suas dependências, incluindo, nesse sentido, a fiscalização quanto à utilização excessiva das tecnologias digitais.

 

REFERÊNCIAS

 

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1Professora de Biologia (CMB), Doutora em Biologia Animal (UnB). Email: Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

2Professor de Biologia (CMB), Mestre em Ecologia (UnB), Especialista em Sociobiodiversidade (UnB).

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