O Ensino híbrido e o uso das tecnologias digitais no ensino de Artes Visuais: impactos na formação de professores e alunos
Vanessa de Carvalho Sardinha Santana da Silva*
https://doi.org/10.63753/osaber.a15n15.66
“O melhor é pensar em termos de sujeito-objeto-sujeito: duas subjetividades criando uma realidade intercomunicável. Sentidos são bens humanos e não fenômenos naturais” (Marcuschi, 2002, p. 60) |
RESUMO
Este artigo revisa o impacto do ensino híbrido e das tecnologias digitais no ensino das Artes Visuais, destacando sua relevância no processo formativo de professores e alunos. Ao combinar métodos presenciais e on-line, o ensino híbrido proporciona oportunidades expandidas de aprendizado, gerando práticas pedagógicas inovadoras e potencializando, assim, o processo de ensino e aprendizagem das Artes Visuais. O papel do professor se transforma em um mediador do conhecimento, incentivando a curiosidade e a análise crítica das produções artísticas. Para os professores, a formação inclui a integração eficaz das tecnologias digitais, tanto no domínio técnico quanto na reflexão sobre seu uso educacional. Essa junção entre o ensino híbrido e as tecnologias digitais potencializa a experiência artística dos alunos, promove a colaboração e enriquece o processo educativo.
Palavras-chave: Ensino híbrido. Tecnologias digitais. Artes Visuais. Formação de professores. Aprendizagem significativa.
ABSTRACT
This article reviews the impact of hybrid teaching and digital technologies in Visual Arts education, highlighting their relevance in the formative process of both teachers and students. By combining in-person and on-line methods, hybrid teaching provides expanded learning opportunities, generating innovative pedagogical practices and enhancing the teaching and learning process in Visual Arts. The role of the teacher is transformed into a knowledge mediator, encouraging curiosity and critical analysis of artistic productions. Teacher training deals with the effective integration of digital technologies, encompassing technical mastery and reflection on their educational use. The integration of hybrid teaching and digital technologies enhances students' artistic experience, fosters collaboration, and enriches the educational process.
Keywords: Blended learning. Digital technologies. Visual Arts. Teacher training. Meaningful learning.
INTRODUÇÃO
O panorama educacional contemporâneo testemunha transformações significativas, impulsionadas pela integração do ensino híbrido e das tecnologias digitais, particularmente no contexto do ensino das Artes Visuais. Esta abordagem inovadora não apenas redefine as dinâmicas de aprendizagem, mas também reajusta o papel do arte/educador e a experiência educativa dos alunos. O presente artigo propõe uma reflexão sobre os impactos do ensino híbrido e do uso das tecnologias digitais no ensino de Artes Visuais, destacando sua relevância no processo formativo de professores e alunos.
A combinação do ensino presencial e on-line, característica central do ensino híbrido, oferece um terreno fértil para a expansão das possibilidades pedagógicas no campo das Artes Visuais. Essa abordagem proporciona um ambiente fluido que rompe as fronteiras físicas da sala de aula, abrindo portas para a exploração criativa, o acesso a um vasto repertório artístico e a interação com tecnologias de ponta. Consequentemente, a prática educacional é desafiada a se reinventar, demandando uma reflexão aprofundada sobre o papel do professor e as estratégias de ensino mais eficazes nesse contexto.
A formação de professores torna-se um ponto central nesse cenário em evolução. A capacitação dos educadores para a integração efetiva das tecnologias digitais não se restringe apenas ao domínio técnico, mas abarca a compreensão do potencial transformador dessas ferramentas no contexto do ensino das Artes Visuais. Nesse sentido, o presente artigo visa explorar como a formação continuada pode capacitar os professores a incorporar de maneira significativa as tecnologias digitais em suas práticas pedagógicas, visando não apenas ao aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem, mas também como essas práticas influem no desenvolvimento integral dos alunos.
Assim, este artigo busca refletir sobre os impactos causados pelo ensino híbrido e o uso das tecnologias digitais no ensino de Artes Visuais, destacando a formação de professores e o desenvolvimento educacional dos alunos neste contexto. Essa compreensão é essencial para o avanço no campo educacional, especialmente diante dos desafios e oportunidades da era digital, buscando aprimorar continuamente a qualidade do ensino oferecido nas disciplinas de Artes Visuais.
DESENVOLVIMENTO
O ensino híbrido no contexto das Artes Visuais
Por vivermos em uma era digital, em constantes transformações sociais e culturais, na qual os alunos, nativos digitais1 Prensky, 2001), estão inseridos, é preciso que o ensino e as práticas pedagógicas em Artes Visuais acompanhem essas transformações. Isso inclui a utilização de metodologias ativas, que podem ser usadas pelos professores, para melhorar o processo de ensino-aprendizagem tornando o aluno responsável e protagonista da sua própria aprendizagem. O desafio do educador, nos dias atuais, é mediar a interação, a apropriação, a construção e a elaboração dos conhecimentos dos alunos com as tecnologias em sala de aula, como facilitadoras do ensino.
No ensino de Artes é importante colocar o aluno em contato com diferentes maneiras de expressar suas ideias, em constante estado de atenção e reflexão, para que amplie suas capacidades comunicativas e descubra suas próprias formas de utilizar os recursos existentes. É no diálogo entre as linguagens que cada um poderá se aprofundar no funcionamento das dinâmicas de composição da imagem a partir de suas próprias necessidades expressivas. É essencial que professores e instituições educacionais busquem novos caminhos, a fim de que a construção de conhecimentos aconteça a partir da realidade em que vivemos. Segundo Barbosa (2005, p. 110) “para compreender e fruir a arte produzida pelos meios eletrônicos, o público necessita de uma nova escuta e de um novo olhar”.
Nesse sentido, o ensino híbrido tem sido uma prática inovadora para o docente sendo que as variadas formas desse ensino nos permite adaptações metodológicas no processo educativo, com recursos diversos e nos espaços, pois o virtual e presencial também têm denominações contextualizadas, uma vez que a sala de aula invertida, por exemplo, pode ser representada em contextos e ambientes diversos.
Sendo assim, o ensino híbrido pode ser estruturado via atividades síncronas, nas quais o professor e os estudantes trabalham juntos, em um horário predefinido, de maneira on-line ou presencial, ou assíncrona, quando o aluno pode estudar em seu próprio tempo e velocidade, sem necessidade de estar com a turma ou o educador. O ensino híbrido busca unir os aspectos positivos das duas metodologias, a fim de oferecer melhores condições de aprendizagem para os alunos.
Ainda sobre a compreensão do conceito de híbrido, para Moran:
Híbrido significa misturado, mesclado, blended. A educação sempre foi misturada, híbrida, sempre combinou vários espaços, tempos, atividades, metodologias, públicos. Esse processo, agora, com a mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível, amplo e profundo: é um ecossistema mais aberto e criativo. Podemos ensinar e aprender de inúmeras formas, em todos os momentos, em múltiplos espaços. Híbrido é um conceito rico, apropriado e complicado. Tudo pode ser misturado, combinado, e podemos, com os mesmos ingredientes, preparar diversos “pratos”, com sabores muito diferentes (Moran, 2015, p. 22). |
Moran (2015) também resume algumas contribuições possíveis sobre o ensino híbrido, uma delas é o fato de o aluno poder assumir o papel de aprendiz proativo e participante, sujeito de suas ações e protagonista do seu aprendizado. E o professor nesse processo possui o significativo papel de mediador e orientador. Por isso, é tão importante uma mudança de entendimento e atitudes.
Sendo assim, as tecnologias digitais possibilitam configurar espaços de aprendizagem, nos quais o conhecimento é construído conjuntamente, porque haverá interatividade. Não há como pensar em educação sem troca, sem cocriação, sem interatividade como aspecto central.
Impacto na formação de professores
A formação dos professores desempenha um papel fundamental na implementação bem-sucedida do ensino híbrido e na integração eficaz das tecnologias digitais no contexto do ensino de Artes Visuais. A necessidade de capacitação contínua para os educadores é evidente, exigindo uma abordagem holística que englobe não apenas a familiarização com as ferramentas digitais, mas também uma compreensão aprofundada de como essas tecnologias podem ser utilizadas de maneira pedagogicamente relevante e transformadora.
Primeiramente, a formação dos professores deve abordar o domínio técnico das tecnologias digitais, incluindo o conhecimento e a habilidade para utilizar recursos digitais pertinentes para as Artes Visuais. Professores capacitados tecnicamente são capazes de guiar os alunos de forma mais eficaz, oferecendo suporte na exploração e utilização dessas ferramentas em seus processos criativos.
No entanto, além do domínio técnico, a formação dos professores deve englobar uma reflexão crítica sobre o uso pedagógico das tecnologias digitais. Os educadores precisam compreender como integrar essas ferramentas de forma significativa em seus planos de aula, promovendo a aprendizagem ativa e estimulando a criatividade dos alunos. Isso implica repensar estratégias de ensino-aprendizagem e criar ambientes que incentivem a experimentação, a expressão individual e a colaboração por meio das tecnologias.
Para isso, é necessário também que os docentes tenham uma base sólida de conhecimentos. A história do ensino da arte oferece um contexto valioso, permitindo compreender a evolução das práticas pedagógicas, os métodos de ensino, as abordagens artísticas e as mudanças sociais ao longo do tempo. Esse conhecimento histórico serve como alicerce para a prática docente contemporânea, fornecendo insights sobre como a arte foi percebida, ensinada e valorizada em diferentes períodos culturais.
Ao compreender as diferentes abordagens educacionais utilizadas ao longo da história para ensinar arte, um professor adquire uma visão ampla de estratégias e metodologias. Isso permite a criação de um repertório diversificado de práticas pedagógicas, adaptando-se melhor às necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos.
Conhecer as mudanças que ocorreram ao longo dos anos, seus aprimoramentos e influências no processo de ensino de Arte, as reflexões sobre realidades sociais e profissionais, bem como as concepções e metodologias que refletem na prática são destacados por Ana Mae Barbosa (2008) como conhecimentos de grande relevância para o processo de ensino aprendizagem.
A falta de conhecimentos sobre o passado está levando os arte-educadores brasileiros a valorizarem excessivamente o “novo”. Tudo o que é considerado novidade é adotado entusiasticamente. Objetivos, métodos e estratégias supostamente “novos” vêm sendo sucessivamente introduzidos nas aulas de arte sem que haja qualquer preocupação com sua inter-relação. Esta falta de estrutura interna no ensino da arte, ensino este que se pretende inovador, está levando a uma concepção de arte como nonsense, uma espécie de fazer sem intenção (Barbosa, 2008, p. 33). |
Para Ferraz e Fusari (2010, p. 51) “[...] No caso do professor de Arte, sua prática-teoria artística e estética deve estar conectada a uma concepção de arte, assim como as consistentes propostas pedagógicas. Em síntese, ele precisa saber arte e saber ser professor de arte”. Segundo as autoras:
É atuar através de uma pedagogia mais realista e mais progressista, que aproxime os estudantes do legado cultural e artístico da humanidade, permitindo, assim, que tenham conhecimento dos aspectos mais significativos de nossa cultura, em suas diversas manifestações. E, para que isso ocorra efetivamente, é preciso aprofundar estudos e evoluir no saber estético e artístico (Ferraz & Fusari, 2010, p. 51). |
Além disso, a familiaridade com os conteúdos específicos da disciplina de arte é essencial para transmitir conhecimentos de maneira eficaz. Um professor que possui um conhecimento aprofundado sobre técnicas artísticas, movimentos culturais, obras e artistas reconhecidos é capaz de oferecer uma educação mais rica e estimulante. Essa expertise também possibilita ao professor despertar nos alunos a capacidade de análise crítica, interpretação e apreciação da arte em suas diversas formas, contribuindo para o desenvolvimento de uma visão mais sensível e culturalmente enriquecedora.
Ademais, o conhecimento da história do ensino da arte oferece uma compreensão mais ampla das políticas educacionais e das tendências contemporâneas, permitindo ao professor contextualizar o papel da arte na sociedade atual e preparar os alunos para enfrentar os desafios do mundo moderno.
Uma formação continuada que aborde todos esses aspectos é essencial para capacitar os professores a enfrentarem os desafios e explorarem as potencialidades oferecidas pelo ensino híbrido e pelas tecnologias digitais no contexto das Artes Visuais. Essa formação não apenas influencia diretamente a prática docente, mas também tem um impacto significativo na qualidade da experiência educacional, contribuindo para a formação de indivíduos mais criativos, reflexivos e culturalmente conscientes.
É importante também uma mudança nos modelos educacionais, pois os modelos tradicionais de ensino, em que o professor é considerado figura central e único detentor do conhecimento, e os alunos apenas reprodutores dos saberes, não atende aos anseios de uma sociedade em constante transformação e evolução. No contexto atual, há uma busca por modernizar o ensino, porém as tentativas trazem a tecnologia pela tecnologia em si, mas não buscam inovar os métodos e melhorar a qualidade do processo de ensino e aprendizagem.
Por isso, é tão importante que o arte/educador faça uso de práticas inovadoras de ensino ou busque uma ressignificação delas, repensando o ensino da arte e apresentando aos alunos novas formas de interagir e dialogar sobre o fazer arte na atualidade.
Maximizando a aprendizagem dos alunos por meio do ensino híbrido e das tecnologias digitais em Artes Visuais
A integração entre o ensino híbrido e as tecnologias digitais tem se revelado como um divisor de águas no campo da educação, especialmente no ensino das Artes Visuais. Essa interação, ao ser explorada, traz vastos e significativos benefícios para a aprendizagem dos alunos, proporcionando um ambiente educacional enriquecido e uma experiência mais dinâmica e envolvente. Segundo Moran (2007), as tecnologias têm um papel fundamental no processo de aprendizagem no sentido de despertar nos alunos o interesse em aprender.
Uma das vantagens mais notáveis é a expansão do acesso a recursos e materiais educativos. As tecnologias digitais abrem portas para um amplo universo artístico, permitindo que os alunos explorem galerias virtuais, obras de arte renomadas e técnicas diversas a partir de qualquer lugar. Isso amplia seus horizontes culturais, enriquece seu repertório visual e promove uma compreensão mais profunda e abrangente das formas de expressão artística. De acordo com Bacich, Neto e Trevisani (2015, p. 41), o uso de tecnologias digitais, no contexto escolar, propicia amplas possibilidades de atividades educacionais mais significativas para os seus participantes. Segundo os autores, o ensino híbrido insere a tecnologia digital no contexto escolar, sem a necessidade de derrubar paredes, mas quebrando as velhas formas de enxergar o ensino.
A interatividade, outra característica proporcionada pelas tecnologias digitais, é um fator que estimula o engajamento dos alunos. A possibilidade de criar, experimentar e manipular visualmente por meio de softwares específicos oferece uma plataforma ideal para a expressão criativa. A natureza prática e interativa dessas ferramentas motiva os alunos, tornando o processo de aprendizagem mais imersivo e cativante.
Outro benefício importante é a personalização do aprendizado. O ensino híbrido permite que os alunos avancem em seu próprio ritmo, revisitando conceitos ou explorando áreas de interesse de maneira mais aprofundada. A flexibilidade proporcionada pelas tecnologias digitais permite que os alunos assumam um papel mais ativo em sua própria aprendizagem, adaptando o processo de acordo com suas necessidades individuais.
A colaboração é outra vantagem inegável dessas ferramentas no ensino das Artes Visuais. Os alunos podem colaborar em projetos coletivos, compartilhar ideias, oferecer feedback e trabalhar em equipe, mesmo a distância. Isso promove habilidades sociais essenciais, além de enriquecer o processo criativo ao expor os alunos a diferentes perspectivas e estilos.
A avaliação também é aprimorada por meio das tecnologias digitais. Ferramentas interativas permitem uma avaliação mais detalhada e contextualizada das produções dos alunos. Os professores podem fornecer feedback mais específico e construtivo, focando não apenas no produto final, mas também no processo de criação, estimulando o desenvolvimento contínuo dos alunos.
Em síntese, o ensino híbrido, aliado às tecnologias digitais, potencializa a aprendizagem em Artes Visuais ao oferecer acesso expandido a recursos, estimular a criatividade, promover a personalização do aprendizado, fomentar a colaboração e aprimorar os processos de avaliação. Essas ferramentas não apenas enriquecem a experiência educacional dos alunos, mas também preparam indivíduos mais adaptáveis, criativos e aptos a enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
Desafios do ensino híbrido e das tecnologias digitais na aprendizagem em Artes Visuais
Embora o ensino híbrido e as tecnologias digitais ofereçam uma gama impressionante de benefícios, sua implementação na aprendizagem de Artes Visuais não está isenta de desafios. Esses desafios, muitas vezes, representam obstáculos significativos que exigem reflexão, adaptação e estratégias específicas para garantir uma experiência educacional eficaz e enriquecedora para os alunos.
Um dos desafios centrais é a necessidade de infraestrutura e acesso equitativo às tecnologias. Nem todos os alunos têm acesso igualitário a dispositivos digitais ou à internet de qualidade, o que pode criar disparidades na participação e no engajamento. Essa falta de acesso pode limitar a capacidade de alguns alunos de aproveitar plenamente os recursos digitais oferecidos, prejudicando sua experiência educacional.
Além disso, é sabido o quanto pode ser desafiador o caminho que nos leva ao aprendizado de novos conhecimentos. Nem todos os estudantes estão igualmente familiarizados ou confortáveis com o uso de tecnologias digitais, o que pode criar uma barreira inicial para a compreensão e a aplicação eficaz dessas ferramentas no contexto das Artes Visuais. Da mesma forma, professores podem enfrentar desafios ao integrar essas tecnologias em suas práticas pedagógicas, exigindo tempo e esforço para adquirir habilidades técnicas e conceituais.
Outro desafio é a gestão do tempo e do engajamento dos alunos. O ensino híbrido requer uma maior autonomia e autorregulação dos estudantes, que devem equilibrar as demandas do ensino presencial com as atividades on-line. A falta de supervisão direta pode levar à procrastinação ou à falta de participação ativa em ambientes digitais, afetando negativamente a aprendizagem e a realização de tarefas.
Ainda, a qualidade da interação pode ser comprometida no ambiente digital. A comunicação presencial é frequentemente substituída por interações virtuais, o que pode afetar a dinâmica das discussões em sala de aula e a capacidade dos alunos de se engajarem profundamente nos debates e atividades colaborativas.
Da mesma forma, a questão da avaliação também é um desafio. Avaliar o aprendizado e as produções dos alunos mediadas por tecnologias digitais requer uma abordagem diferenciada e mais criteriosa. Os métodos tradicionais de avaliação podem não ser adequados para capturar completamente o processo criativo ou o uso das ferramentas digitais, exigindo novas estratégias avaliativas que considerem essas nuances.
Por fim, o uso do ensino híbrido e das tecnologias digitais no ensino das Artes Visuais traz consigo desafios significativos relacionados à equidade de acesso, capacitação docente, gestão do tempo e engajamento, qualidade da interação e avaliação. Enfrentar esses desafios requer um compromisso contínuo com a adaptação, a inclusão, o desenvolvimento de habilidades digitais e a busca por estratégias pedagógicas inovadoras que permitam maximizar os benefícios dessas ferramentas enquanto se superam os obstáculos associados ao seu uso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O avanço do ensino híbrido e a crescente integração das tecnologias digitais no ensino das Artes Visuais são reflexos da constante evolução do ambiente educacional, cheio de oportunidades, desafios e amplas possibilidades. É inegável o impacto positivo que essas ferramentas exercem na experiência educativa dos alunos e na prática pedagógica dos professores.
Ao longo deste artigo, tornou-se evidente que a incorporação dessas ferramentas amplia o acesso a recursos artísticos, promove a criatividade e a expressão do aluno, além de estimular a colaboração e a personalização do aprendizado, tornando-o proativo e participante, sujeito de suas ações e protagonista do seu aprendizado. Contudo, não podemos ignorar os desafios apresentados, como as disparidades quanto ao acesso às tecnologias, a capacitação dos professores, a gestão do tempo e o envolvimento dos estudantes. Tais questões demandam atenção e estratégias específicas para mitigar seus efeitos negativos.
Em suma, o ensino híbrido e o uso das tecnologias digitais no ensino de Artes Visuais representam um caminho promissor para aprimorar a experiência educacional, capacitando alunos e professores a explorarem novos horizontes, estimularem a criatividade e se adaptarem às demandas de um mundo em constante evolução tecnológica. É através do equilíbrio entre os desafios e os benefícios que se constrói uma abordagem educacional mais dinâmica, inclusiva e eficaz para o ensino das Artes Visuais.
Por fim, rememoro as reflexões de Moran (2015) sobre os diversos “pratos” e “sabores” possibilitados através de uma escola aberta e integrada com o mundo vivo que o digital traz. Talvez essa seja a grande questão de que carece a educação nos dias de hoje: perceber um novo “sabor para o ato de ensinar e aprender”. Esse é o desafio de todos os envolvidos no contexto educacional.
REFERÊNCIAS
BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (2015) Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 41p.
BARBOSA, A. M. (2005) Dilemas da Arte/Educação como mediação cultural em namoro com as tecnologias contemporâneas. In: Ana Mae Barbosa (Org.). Arte/Educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 110p.
BARBOSA, A. M. (2008) Ensino da Arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 33p.
FERRAZ, M. H. C. T.; FUSARI, REZENDE, M. F. (2010) Arte na Educação Escolar. 4ª ed.- São Paulo: Cortez, 51p.
MORAN, J. M. (2007) A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus.
MORAN, J. M. (2015) Mudando a educação com metodologias ativas. In: Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Coleção Mídias Contemporâneas, 22p.
PRENSKY, M. (2001) Digital Natives, Digital Immigrants. In: PRENSKY, Marc. On The Horizon, MCB University Press, v. 9, n 5. Disponível em: < https://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf> Acesso em: 29 Nov. 2024.
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*Professora de Artes (CMB), Especialista em Docência para Educação Profissional e Tecnológica (IFG). Email:
1Termo usado por Marc Prensky, em 2001, para descrever a geração de pessoas que cresceram na era da tecnologia onipresente, incluindo computadores e a Internet. O oposto, os chamados “imigrantes digitais”, refere-se às pessoas que tiveram que se adaptar à nova linguagem da tecnologia. No entanto, recentemente abandonou-as, preferindo a de “homo sapien digital”, numa alusão ao que ele compreende como detentor de uma “sabedoria digital” (digital wisdom), aquele que usa sabiamente as tecnologias contemporâneas para resolver problemas do dia a dia (Prensky, 2001).